Recife é a primeira cidade do Brasil a usar tecnologia inclusiva para estudantes com deficiência visual
Do site da Prefeitura do Recife
A cidade do Recife se tornou a primeira cidade brasileira a ter um dispositivo de tecnologia inclusiva – que se assemelha a uma visão artificial – voltado para a letramento e conhecimento dos alunos da rede municipal de ensino. A Secretaria de Educação entregou 27 equipamentos para serem utilizados para os alunos e professores da rede. Deste total, cinco serão utilizados pelas duas maiores instituições de Pernambuco: Instituto dos Cegos e Associação Pernambucana de Cegos. O valor do investimento foi de R$ 500 mil.
“A Prefeitura do Recife inova mais uma vez em tecnologia inclusiva. Desta vez, nós estamos disponibilizando um dispositivo que é acoplado ao óculos e vai beneficiar todos os professores com deficiência visual bem como nossos alunos. Nunca houve no Brasil a entrega para utilização pedagógica dessa tecnologia. É um recurso importante para a qualidade de ensino dos nossos alunos”, destacou Bernardo D´Almeida, secretário de Educação do Recife.
Na prática, o dispositivo Orcam My Eye 2.0 detecta textos em português, inglês e espanhol, com possibilidade de escolher entre voz masculina e feminina; tem comandos para pausar, adiantar ou retroceder a leitura. O equipamento consegue ainda identificar cores e tonalidades, reconhecer pessoas e gêneros, rostos, informar a data e hora com um simples gesto de girar o pulso, cédulas de dinheiro (reais e dólares) e identificar produtos pelo código de barras. Após o reconhecimento, retransmite a informação discretamente no ouvido do usuário, oferecendo uma maior independência às pessoas cegas e com baixa visão.
“Esse equipamento vai ser ótimo porque vai melhorar a minha situação dentro da sala. Eu vou poder tirar as atividades do quadro sozinho sem precisar de um auxiliar do lado”, comemorou Caio Henrique, de 14 anos, com baixa visão e estudante do 8º ano da Escola Municipal Nilo Pereira, em Casa Amarela.
Gustavo Dantas, professor do Ensino Fundamental do Recife, é cego e foi um dos beneficiados com o nova tecnologia. “Essa iniciativa muda a forma como as crianças, adolescentes e profissionais terão acesso ao material impresso. O que não era acessível passa a fazer parte do nosso dia a dia. Tudo aquilo que não está acessível de alguma forma – outdoor, cartaz, cardápio, livro didático – agora se torna acessível a nós. Quem nunca chegou ao restaurante e não teve acesso ao que estava no cardápio? O equipamento é tão discreto que quem está na mesa ao lado, não imagina que estamos realizando um sonho. Hoje esse sonho é uma realidade. Recife faz a história, dando o passo inicial”, celebrou o professor.
A rede de ensino do Recife possui um total de 13 alunos cegos, 124 com baixa visão, oito professores cegos ou com baixa visão, além de dez servidores com o mesmo laudo. Deste total, dois professores atendem no contraturno do Instituto dos Cegos, assim como os alunos com deficiência visual.
“Essa tecnologia permite que os alunos e professores tenham acesso ao conhecimento. As pessoas cegas começarão a se sentirem iguais as outras pessoas que podem pegar um livro e ler. O acesso ao conhecimento permite um reforço grande a inclusão, emancipação, independência, autonomia. Nossa meta é resgatar a cidadania, devolver a dignidade e fazer com que as pessoas com deficiência visual percebam dentro de si eu posso, eu vou e eu consigo’”, afirmou a diretora do Instituto, Irmã Irmã Maria da Silva Gomes.
A gerente de Educação Especial do Recife, Adilza Gomes, explica que o equipamento será utilizado pelos alunos e professores na sala de aula regular e no Atendimento Especial Especializado (AEE) da rede de ensino. “Os professores e estudantes vivenciarão experiências autônomas de leitura, que ampliarão as possibilidades do processo de ensino e aprendizagem, colocando mais uma vez a educação da cidade como pioneira no processo de inclusão escolar das pessoas com deficiência e na valorização dos professores”, frisou a gestora, destacando que a aprendizagem será fortalecida em todas as áreas do conhecimento.
“Cerca de 80% das atividades que realizamos no dia a dia estão relacionadas à leitura. O MyEye 2.0 é o que existe de mais moderno em tecnologia assistiva para as pessoas com deficiência visual. Eles podem ir para bibliotecas ler os livros apesar da visão. É um complemento ao braille que dá uma grande autonomia”, afirmou André Santos, representante da Orcam no Nordeste.
EDUCAÇÃO INCLUSIVA – A política de educação inclusiva é prioridade na atual gestão. A qualidade do ensino e o desenvolvimento dos alunos fez com que a rede de ensino do Recife registrasse um aumento de 59,67% no número de estudantes da Educação Especial. Recife é uma das únicas três capitais do país a contar com Agente de Apoio ao Desenvolvimento Escolar Especial (AADEE). De 2016 a novembro de 2019, a gestão nomeou 396 profissionais. A rede também conta com 224 professores do Atendimento Educacional Especializado (AEE), que são os docentes com pós-graduação em Educação Especial.
Todos os alunos da Educação Especial são inclusos nas salas regulares, junto com os demais estudantes da rede municipal. A partir do grupo 4, os estudantes com deficiências também passam a desenvolver, no contraturno da aula na turma regular, trabalhos direcionados nas 124 Salas de Recursos Multifuncionais (SRM) existentes na rede. Todas possuem os kits de teclados acessíveis TiX (teclado, tablet, software e acessórios), que ajudam na comunicação dos estudantes que tem mobilidade de mão ou braço reduzida, deficiência motora, Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), paralisia cerebral, deficiências intelectuais e transtornos de aprendizagem, entre outras deficiências. O teclado TiX funciona como um painel assistivo e como teclado-mouse iconográfico combinatório para computadores, notebooks ou tablets, permitindo a digitação de qualquer letra, número, símbolo ou comando de um teclado convencional utilizando apenas nove botões, que pressionados produz um caracter, de acordo com a sequencia utilizada.
Desde março de 2015, os estudantes da Rede Municipal de Ensino podem optar por estudar em Salas Regulares Bilíngues, onde aprendem libras como o primeiro idioma e português como a segunda língua. Nas salas regulares bilíngues, os estudantes ampliam o uso social da linguagem de sinais, e aprendem o português como segunda língua, para contemplar o ensino na modalidade escrita em todas as áreas de conhecimento. Dessa maneira, os estudantes têm a linguagem de sinais adicionada aos componentes curriculares, conforme recomenda o Plano Nacional de Educação. Com essa iniciativa, o Recife agora faz parte das cidades brasileiras que possuem escolas públicas com salas bilíngues. Atualmente, São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza e Campina Grande adotam esta iniciativa. No sentido de fortalecer essa ação e ampliar o número de salas bilíngues, a Secretaria de Educação do Recife, em 2017, iniciou o Curso de Libras à distância. O Curso teve como objetivo disseminar a Língua Brasileira de Sinais – Libras e atender à demanda das escolas municipais e aos estudantes surdos, na perspectiva da inclusão. Aliado a isso, além de ampliar as possibilidades de interação, formação e crescimento às pessoas surdas, irá favorecer a interlocução entre surdos e ouvintes, na medida em que poderão se comunicar em Libras.
A Prefeitura também disponibiliza o Transporte Inclusivo aos estudantes com deficiência que têm grandes comprometimentos na locomoção, comunicação e interação social, matriculados nas unidades educacionais da Rede Municipal. No total são 25 veículos (18 micro-ônibus e 7 vans), atendendo a 368 estudantes. Salienta-se, ainda, que, para garantir um atendimento adequado, os motoristas contratados para as vans e para os micro-ônibus recebem um treinamento específico para conduzir os veículos e auxiliar as crianças e adolescentes.