Carnaval: CREFONO 4 alerta para cuidados com voz e audição
Milhões de foliões esperam, com ansiedade, a chegada do Carnaval, considerado uma das maiores festas populares do mundo. Do Sábado de Zé Pereira até a Quarta-Feira de Cinzas as ruas, os clubes e os sambódromos de todo o País são invadidados por uma legião de pessoas que querem exclusivamente se divertir. O diagnóstico é preciso: onda há Carnaval há uma multidão de foliões cantando em coro as músicas e machinhas tradicionais desse animado período do ano.
Também é natural que durante a Folia de Momo o excesso da exposição a som de alta intensidade (no caso dos trios elétricos) e o uso intenso da voz (nos blocos de rua, por exemplo) sejam constantes no cotidiano dos foliões. Na grande maioria dos casos, as pessoas sequer atentam para os cuidados necessários que devem ter com a audição e a voz.
Por mais rápido que seja a festa – dura apenas quatro dias – as consequências dos agravos dessa exposição podem trazer prejuízos imensuráveis na qualidade de vida das pessoas. Os cuidados devem ser redobrados, principalmente, para as pessoas que utilizam a voz como instrumento de trabalho e na Quarta-feira de Cinzas já precisam retornar às atividades profissionais, como é o caso dos vendedores, professores, atendentes de telemarketing entre outros.
A preocupação com esses excessos também deve ser estendida aos músicos, que nesses períodos de Carnaval chegam a uma jornada de trabalho de mais de seis horas de festa por dia. Nesses casos, a orientação de um fonoaudiólogo especializado em voz ajudará o mesmo a evitar fadiga vocal, perda de qualidade da voz ou perda da voz (afonia) durante a maratona em cima de um trio elétrico com chuva e/ou sol.
Com o objetivo de orientar músicos e foliões, o Conselho Regional de Fonoaudiologia 4ª Região (PE, BA, AL, SE e PB) está divulgando algumas dicas e orientações a respeito dos cuidados que devemos ter durante as festividades carnavalescas com a voz e a audição. Confira:
VOZ
Aos foliões
Deve-se evitar excessos. Os problemas vocais são multifatoriais e estão relacionados com qualidade do sono, hidratação, alimentação adequada, uso correto da voz e a predisposição a infecções das vias aéreas. Para quem tem refluxo gastroesofágico, que é o retorno do conteúdo gástrico para o esôfago, atingindo as pregas vocais, por exemplo, deve-se evitar alimentos gordurosos, condimentados, excesso de café e bebida alcoólica.
A maioria das bebidas alcoólicas, principalmente as destiladas como vodka, whiskye conhaque, prejudicam severamente a voz. O consumo de álcool causa desidratação. A ingestão em excesso causa edema nas pregas vocais e pouca resistência vocal. A voz fica muito grave e rouca, perdendo o brilho e a extensão. A articulação fica imprecisa com pouca agilidade. Já o fumo é o inimigo número 1 da voz. Na “melhor” das hipóteses causa enfisema pulmonar e edema de Reinke, quando não causa câncer de boca, laringe ou pulmão.
A rouquidão, frequente nas pessoas após o Carnaval, pode ser ocasionada apenas por fadiga vocal, a presença de alguma lesão nas cordas vocais, ou secundária a infecções respiratórias. A dica para combater a rouquidão é o equilíbrio no uso da voz. O carnaval é uma grande maratona. Manter-se hidratado, repousar o corpo e a voz depois da folia, alimentar-se adequadamente são dicas simples, mas importantes.
Dez dicas para manter a voz saudável na folia
1. Evitar o cigarro;
2. Beber com moderação;
3. Utilizar roupas confortáveis;
4. Articular bem as palavras;
5. Não forçar a voz;
6. Poupar a voz durante períodos pré-menstruais, crises alérgicas e estados gripais;
7. Ingerir bastante líquido em temperatura ambiente;
8. Evitar alimentos que causem azia e má-digestão;
9. Evitar gritar, falar muito alto ou cantar durante muito tempo;
10. Treinar a voz participando de corais ou escolas de canto com orientação profissional.
Aos músicos
Para manter o mesmo ritmo e qualidade vocal durante as horas de show é necessário um acompanhamento fonoaudiológico. O tratamento permitirá a conquista de novos hábitos e o restabelecimento da resistência e rejuvenescimento da voz. Alguns exercícios são recomendados para os artistas durante os shows, como o aquecimento da laringe antes do início do show e o desaquecimento após a maratona de festa.
A intenção desse acompanhamento fonoaudiológico é evitar no cantor fadiga vocal, perda da qualidade da voz ou afonia (colapso na voz). “A cada 24 horas, os cantores têm um edema na laringe e, no terceiro dia de festa, começam a se assustar com a perda da voz. Por isso, passamos diversos exercícios vocais para fazer artistas roucos voltarem a cantar com perfeição. Não tem musical de Broadway ou Ópera ou qualquer outra coisa que se compare ao que se enfrenta no Carnaval”, explicou a fonoaudióloga baiana Valéria Leal, que atende cantores como Carlinhos Brown, Margareth Menezes, Daniela Mercury, Carla Cristina, Carla Visi, Tomate, Léo Santana, entre outros.
AUDIÇÃO
De acordo com a Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial durante o Carnaval a intensidade de som pode chegar a 120 decibéis (seja nas ruas, som do trio elétrico ou no sambódromo). No entanto, nosso ouvido suporta apenas uma intensidade de 85 decibéis por cerca de oito horas. Se o som atinge 110, a tolerância cai para apenas meia hora. E 120, cai para apenas 15 minutos. Essa exposição prolongada ao barulho (como acontece com trabalhadores de fábricas e indústrias que não protegem os ouvidos, pode levar em alguns anos à perda definitiva da audição.
Segundo a Sociedade Brasileira de Otologia, é durante o Carnaval que se verifica um aumento no número de casos de pessoas que apresentam problemas nos ouvidos, causados, principalmente, pelos ruídos derivados de caixas de som super potentes de clubes e trios elétricos.
É importante lembrar que a Organização Mundial de Saúde (OMS) considera a poluição sonora a terceira maior do meio ambiente, perdendo apenas para a poluição da água e do ar. A exposição a sons intensos é a segunda causa mais comum de deficiência auditiva. Muito se pode fazer para prevenir a perda auditiva induzida por ruído, mas pouco pode ser feito para reverter os danos que ela causa.
Aos foliões e músicos
O uso de protetores auriculares de silicone moldável é bastante recomendado para os foliões que querem evitar problemas auditivos sérios neste carnaval, porém o acessório pode atrapalhar a comunicação e, por isso, o seu índice de utilização é quase zero. É recomendável o uso de protetores auriculares em crianças.
Outra dica é fazer intervalos de 10 minutos longe do barulho, a cada 30 minutos. Dessa forma, o ouvido tem tempo para se recuperar. Outra dica importante é ficar a uma distância de pelo menos 10 metros da fonte sonora (bandas, caixas de some/ou trio elétrico).
Em caso de exposição intensa ao som alto, vale destacar que se o zumbido ou sensação de abafamento durar mais de três dias, a recomendação é procurar um otorrinolaringologista para verificar se houve alguma lesão.
TABELA DE INTENSIDADE SONORA
Fonte Sonora |
Intensidade em dB* |
Avião a jato (durante a decolagem a 20 metros) e arma de fogo |
130-140 |
Concerto de “rock”, trios elétricos e barracão de escola de samba |
120 |
Serra elétrica e furadeira pneumática |
100-105 |
Tráfego pesado |
80 |
Automóvel passando a 20 metros |
70 |
Conversação a 1 metro |
60 |
Sala silenciosa |
50 |
Área residencial à noite |
40 |
Falar sussurrando |
20 |
* Decibéis