Fonoaudi
Neymar é um dos jogadores mais badalados da publicidade brasileira e muitas marcas sonham em ver o craque usando seus produtos. Mas todo esse sucesso não é graças apenas ao talento e ao carisma do jogador. O atacante do Barcelona se transformou em uma importante arma de comunicação depois de muito treinamento em que usou de música de pagode a revistas de ciências e tecnologia.
Se hoje Neymar dá entrevista com desenvoltura e até foi escolhido para dar coletiva após a derrota por 7 a 1 do Brasil para a Alemanha na Copa, tudo foi conquistado com muito trabalho. O atleta fez um curso intenso de media training e se dedicou à fonoaudiologia com a consultora em comunicação humana Cida Coelho.
Nos dois anos em que trabalhou com Neymar, ela ressalta o desenvolvimento do jogador e revela o que fez para tornar cada encontro interessante.
Neymar fazia as sessões sempre depois do almoço e, por isso, interrompia seus cochilos da tarde. Ainda assim não chegava mal humorado. Cuidadosamente, Cida escolhia temas que se aproximavam ao gosto do craque como músicas de pagode e matérias de tecnologia e revistas como Galileu e Superinteressante.
“Eu trazia muitos materiais para serem lidos que eu julgava que eram de interesse dele, trazia coisas que pudessem enriquecer. Havia muitas reportagens de tecnologia, porque ele adora tudo o que é eletrônico, ou de divulgação científica que trazem coisas bacanas. Ele gostava de saber algo inusitado de uma descoberta ou do que é feito determinado equipamento”.
Todos sabem que Neymar é fã de pagode, e o ritmo também não podia faltar. “A gente usava música, mas era mais para trabalhar com a melodia dos exercícios do que com a música em si. Nesses casos ele tinha liberdade para escolher o ritmo que quisesse e ele costumava optar por samba ou pagode”.
Quando começou a carreira, ainda bem jovem, Neymar tinha várias dificuldades para se comunicar. De acordo com Cida Coelho, por causa da adolescência, sua voz muitas vezes desafinava. Ele também usava aparelhos ortodônticos e não conseguia articular bem as palavras. A tudo isso, somava-se a timidez própria da idade. Os sinais mais claros eram ‘falar para dentro’ e responder às perguntas de forma monossilábica.
Hoje, ele pode ser considerado um case de sucesso. Aprendeu a projetar a voz e já é elogiado pela facilidade de comunicação nas entrevistas como aconteceu após a derrota do Brasil para a Alemanha na Copa do Mundo. Neymar assumiu uma grande responsabilidade, mostrou desenvoltura e não fugiu da raia ao ser o ‘alvo’ dos jornalistas depois da queda da seleção.
COMPETITIVO
Para Cida Coelho, a evolução do atacante vem principalmente de sua dedicação. Neymar nunca reclamava das sessões, treinava em casa e ainda trazia o espírito de competitividade do futebol para as aulas. Chegava a disputar com a fonoaudióloga quem tinha maior capacidade de fazer os exercícios.
“Era engraçado porque ele tinha uma característica que outros atletas também têm. A gente tem que pedir para a pessoa respirar e produzir determinado som com a viração da ponta de língua. Ele tem que encher o peito e fazer o som do “RRR” jogando para fora. Eu fazia junto com ele e no começo eu conseguia fazer por muito mais tempo, naturalmente. Ele ficava bravo porque queria ganhar de mim e começou a treinar sozinho até me vencer”, conta, aos risos.
Na visão de Cida Coelho, o grande diferencial foi Neymar perceber que era fundamental para a sua carreira não era apenas desempenhar bem seu papel nos campos, mas também se comunicar.
“Foi importante ele ver que não era brincadeira, que não era uma coisa a mais, que era fundamental naquele momento. Ele precisava ser bem compreendido naquilo que ele falava para que a mensagem certa chegasse ao telespectador. Do contrário, corria o risco de ser construída uma imagem muito negativa, a historia poderia ser outra se não fosse conduzida como foi naquela ocasião”.