Avanço tecnológico ajuda no retorno da linguagem oral em crianças


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Fonte: O Estado de Minas – MG
Data: 30/08/2011

Os sons da vida

Conhecimento e avanço tecnológico asseguram a crianças com problemas auditivos o aprendizado e o retorno da linguagem oral. Especialistas sugerem diagnósticos precoces

O silêncio quase ou absoluto se impõe na vida de mais crianças do que a maioria das pessoas com a audição intacta. Na população em geral, a deficiência auditiva atinge de um a seis bebês a cada mil nascimentos. O ouvir bem está, inevitavelmente, ligado ao falar, ao se comunicar, a estar inserido socialmente. Embora reconhecido mundialmente como uma triagem fundamental para chegar a um diagnóstico precoce da surdez, o teste da orelhinha tornou-se obrigatório no Brasil somente em agosto de 2010. Segundo especialistas, muitos hospitais públicos e particulares ainda nem sequer dispõem da aparelhagem para realizá-lo.

Para a criança cuja deficiência é detectada antes dos 6 meses de idade, os recursos médicos e fonoterápicos ecoam esperança. Quando aliados, eles conseguem proporcionar aos pequenos uma qualidade de vida muito próxima da de meninos e meninas que escutam os sons perfeitamente. Diversos fatores provocam a surdez infantil. Quando estão envolvidos indicadores de risco -histórico de deficiência auditiva na família, doenças na gravidez (rubéola, toxoplasmose, citomegalovírus, herpes, sífilis), prematuridade e permanência na UTI – a incidência aumenta para um caso a cada 50 nascimentos.

Segundo o otorrinolaringologista Marcelo Toledo Piza, as causas mais comuns da surdez congênita são as mutações genéticas que promovem alterações nas células do ouvido interno. Tais estruturas transformam o som em impulso nervoso, permitindo que o cérebro reconheça os estímulos sonoros. Menos comum, mas tão graves quanto, são as causas da deficiência auditiva depois do nascimento. Inflamações no ouvido, viroses e males como a meningite podem gerar o transtorno. “O teste do pezinho é um exame de triagem. Se alguma alteração for detectada, a avaliação deve ser refeita. Se a anormalidade persistir, exames diagnósticos devem ser realizados o quanto antes por um fonoaudiólogo”, orienta o médico diretor da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia.

A impossibilidade de escutar o que se passa ao redor traz prejuízos sérios à oralidade e ao desenvolvimento cognitivo. Sem poder contar com os recursos atuais, até o início do século passado, os surdos eram internados em manicômios. As próteses auditivas e os implantes transformaram a realidade de quem consegue o diagnóstico e o tratamento precoces. “A triagem auditiva neonatal universal (Tanu) é fundamental para que intervenções médicas e terapêuticas possam minimizar, ao máximo, a limitação. Indivíduos com indicadores de risco para a surdez devem ser monitorados, ou seja, testados por mais tempo”, aconselha o médico Martin Ptok, do Hannover Medical School, na Alemanha. O pesquisador garante que todas as evidências científicas apontam que, quanto antes a deficiência auditiva for detectada e tratada, melhor o desempenho que o indivíduo terá na linguagem.

Atraso remediado Quando o paciente perde grande quantidade de células do ouvido interno, as próteses auditivas não trazem benefício e a indicação passa a ser a cirurgia para implante coclear. “Esse dispositivo estimula as fibras do nervo auditivo. Se o diagnóstico não for tardio, o atraso no desenvolvimento infantil é mínimo. O cérebro tem plasticidade. Porém, esse benefício é mais bem aproveitado quando o problema é remediado antes dos 6 meses de idade. A fonoterapia também deve ser iniciada nessa fase”, acrescenta Marcelo Piza.

A fonoaudióloga e neurocientista Valéria Reis do Canto Pereira reforça que a orelhinha deve ser testada até a alta hospitalar. Confirmado algum problema, exames comportamentais e eletrofisiológicos são recomendados. O objetivo é descobrir o que promoveu a surdez, caracterizar o seu tipo e o grau e saber se a perda auditiva acomete um ou os dois ouvidos. A partir daí é determinado o tipo de intervenção para remediá-la. “Não adianta fazer a triagem, constatar o problema e não interferir. A deficiência auditiva nos primeiros meses de vida é muito sutil, os pais não a percebem. Por isso, a triagem é importantíssima. Quanto mais cedo intervirmos, menor o prejuízo e maior o sucesso das terapias fonoaudiológicas”, enfatiza.

A reabilitação pode entrar em cena antes mesmo da colocação da prótese ou da cirurgia do implante coclear. Os fonoaudiólogos usam técnicas que estimulam a criança a desenvolver tanto as habilidades auditivas quanto a linguagem oral. “O implante não é mágico.

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