“Nós devemos falar como ela, não ela como a gente”
Fonte: O Estado de S. Paulo – SP
Data: 27/06/2011
“Nós devemos falar como ela, não ela como a gente”
Rogério Santos, Pai de Ana Beatriz, de 12 anos, que é surda
Descobrimos a surdez da Bia quando ela tinha seis meses. Compramos um chocalho e ela nem se importou. A neném da vizinha, que tinha a mesma idade, adorou. Começamos a fazer uns testes caseiros, batendo palmas e tampas de panelas.
Quando o exame mostrou que ela tinha surdez profunda, fiquei perdido. Não conhecia nenhum surdo, não tinha nenhum tipo de convívio. No começo, minha prioridade era fazê-la ouvir. Mas uma amiga fonoaudióloga me disse que o importante era procurar um lugar para que ela criasse uma linguagem de comunicação.
Acabamos na PUC, na divisão de Educação e Reabilitação dos Distúrbios da Comunicação, a Derdic. Lá, quando a Bia completou um aninho, começou um trabalho de estimulação. Eu e a Kátia, minha esposa, íamos quatro vezes por semana, aprendemos libras e descobrimos que era a gente é que devia falar como ela, não ela como a gente.
Quando a Bia tinha 2 anos, fizemos a matrícula dela no colégio bilíngue, de onde não saiu mais. Ela adora geografia e ciências e quer fazer um curso de inglês. Já dei um dicionário e tem dia que chego em casa e tem recadinho dela, em inglês, na geladeira.
Hoje, ela é uma pré-adolescente que aceita a condição dela tranquilamente. Mas, é claro, a adolescência nos preocupa. No fim do ano passado, por exemplo, começou essa onda de Restart (banda adolescente) entre os amigos. Ela acha eles bonitos, tem tênis e camiseta da banda. Um dia, ela falou que queria ouvir o que eles cantam. Esse pedido dói, dói bastante. Mas não minto. Deixo clara qual é a situação dela, mas lembro que isso não tira suas possibilidades de crescer na vida.